CODIFICAÇÃO, DECODIFICAÇÃO E RESISTÊNCIA: o que Stuart Hall nos ensina sobre entender (e ler) as mensagens do cotidiano

Olá, leitores! Que bom ter vocês aqui no Multiletras – esse nosso cantinho de reflexão sobre linguagem, discurso e os sinais que atravessam o cotidiano. 📺💬🧠

No post anterior, falamos sobre as cores e seus sentidos simbólicos. Hoje, seguimos nossa trilha pelo universo da comunicação, mas com outra lente: a da codificação e decodificação, dois conceitos que podem parecer técnicos à primeira vista, mas que, na verdade, atravessam nossas interações mais simples – do bom dia no elevador ao meme compartilhado no grupo da família.

E, claro, quem nos guia nessa conversa é Stuart Hall. 🌍✨

UMA MENSAGEM NUNCA CHEGA SOZINHA

Sabe quando você manda um áudio achando que está sendo super direto e alguém entende tudo errado? Ou quando assiste a um comercial e sente vergonha alheia, enquanto outra pessoa acha o conteúdo emocionante? Pois é. Essa confusão (ou riqueza!) de sentidos tem tudo a ver com a teoria de Stuart Hall sobre codificação e decodificação.

Segundo Hall, toda mensagem passa por uma etapa de codificação (quando quem comunica insere sentidos a partir de sua visão de mundo) e, depois, uma de decodificação (quando quem recebe interpreta a mensagem – e nem sempre do jeito que o emissor esperava).

Parece simples, mas não é. E é justamente aí que mora a beleza da linguagem.

HALL NA MINHA PESQUISA 📝

{Eu avisei que traria minha pesquisa pra conversa, lembram? 😄}

Na minha pesquisa, utilizo as ideias de Stuart Hall – especialmente sua noção de identidade na pós-modernidade – para refletir sobre os influxos decoloniais nos memes da guerra memeal e da Guiana Brasileira, bem como para analisar as estratégias argumentativas de influenciadores que divulgam o Tigrinho. A forma como essas mensagens são codificadas (e depois decodificadas pelo público) me ajuda a entender os deslocamentos, ironias e disputas de sentido que acontecem nesses espaços digitais.

E pretendo usar Hall sempre que possível. Porque ele me ensina a olhar para onde os sentidos escorregam – e é justamente aí que mora o discurso.

CODIFICAR É (TAMBÉM) RESISTIR

Stuart Hall nos lembra que cultura não é neutra: é um lugar de luta. Por isso, prestar atenção aos sentidos que circulam ao nosso redor é também um gesto político. Quando uma propaganda tenta te emocionar, mas você ri. Quando um meme tenta ser ofensivo, mas vira piada interna entre os próprios alvos. Quando uma fala autoritária é remixada com funk no TikTok.

Tudo isso é decodificação. E, muitas vezes, é resistência.

É curioso pensar que Hall, jamaicano em uma Inglaterra branca, construiu suas ideias sobre identidade e comunicação justamente a partir das margens. Ele não queria apenas entender a mídia – queria entender o poder. E como resistir a ele.

No fim das contas, talvez Hall estivesse nos dizendo que entender a linguagem é também entender o outro – suas experiências, seus afetos, suas leituras. E que uma mesma mensagem pode abrir muitas portas. Ou janelas. Ou frestas.

E você? Que mensagens tem lido diferente ultimamente? Algum meme te fez pensar mais do que rir? Compartilha com a gente nos comentários! 📲💭😄

📡 TRÊS FORMAS DE LER O MUNDO (COM STUART HALL)

Uma das coisas que mais gosto na teoria de Stuart Hall é a ideia de que ninguém assiste, lê ou ouve do mesmo jeito. Mesmo diante da mesma mensagem, as leituras variam – e isso não é defeito: é potência. 💬✨

Segundo Hall, há três formas principais de decodificar uma mensagem – e todas dizem muito mais sobre quem recebe do que sobre quem emitiu.

🎯 Leitura dominante (ou preferencial)

É quando você compreende a mensagem exatamente como ela foi pensada – e concorda com ela. Sabe aquele comercial de final de ano que mostra uma família reunida, todo mundo feliz, trilha sonora emocionante e você chora no sofá? Pois é. A leitura dominante aconteceu ali: o anunciante codificou um afeto, e você decodificou com o coração aberto. 💖

🤔 Leitura negociada

Aqui, você entende a mensagem, mas adapta ao seu contexto. Concorda com algumas coisas, torce o nariz pra outras.

Tipo quando você vê um filme de super-herói da Marvel, curte os efeitos especiais, torce pro mocinho, mas fica incomodado com aquele patriotismo forçado. Você negocia: consome, mas com ressalvas. 🦸‍♂️ (No meu caso, pelo menos)

 🙅‍♀️ Leitura oposicional

É quando você entende a mensagem, mas rejeita totalmente o que ela tenta passar.

Lembro de uma campanha de carro que associava sucesso a ter um modelo de luxo. Pra mim, isso não cola. Sucesso é outra coisa. Essa seria minha leitura oposicional. 🏎

E você? Já teve alguma leitura oposicional desses comerciais “aspiracionais”? 😅

 

🌀 COMUNICAÇÃO: UM PROCESSO COM QUATRO MOVIMENTOS

Outra sacada de Hall é mostrar que a comunicação não é só “emissor fala, receptor escuta”. Nada disso. É mais como uma dança em quatro tempos:

Produção – A criação da mensagem: quem pensa, escreve, grava, edita.

Circulação – O caminho que a mensagem percorre: TV, rede social, jornal...

Consumo – O momento em que o público lê, assiste, escuta e interage.

Reprodução – A resposta: curtir, comentar, compartilhar, criticar, parodiar...

Ou seja: a mensagem nunca está completa sozinha. Ela só se realiza quando é lida, sentida, remixada.

ENTRE A INTENÇÃO E A LEITURA

Em 2018, o McDonald’s decidiu virar seu famoso “M” de cabeça para baixo, transformando-o em um “W” em homenagem ao Women’s Day. A ação, que buscava celebrar o Dia Internacional da Mulher, aconteceu em lojas, nas redes sociais e até nos uniformes de funcionários. A intenção? Homenagear o protagonismo feminino. Mas a leitura? Bom... nem todo mundo achou que um logo invertido fosse suficiente.

Nas redes, não faltaram críticas: usuários questionaram o que aquela mudança simbólica significava na prática – principalmente vindo de uma empresa multinacional frequentemente envolvida em discussões sobre exploração de trabalho, baixos salários e desigualdade de gênero em cargos de liderança. O “W” foi visto, por muitos, como um gesto vazio: estético, mas não ético. 💼🚺🍟

Se Stuart Hall estivesse no Twitter naquele dia (e eu gosto de imaginar que estaria 👀), diria que testemunhamos uma decodificação oposicional em massa. A mensagem da marca foi compreendida, sim. Mas o público a rejeitou – e respondeu com ironia, memes e indignação. O código estava lá. Mas o sentido dominante, não colou.

                                                                           Imagem 1: 


Disponível em: https://vejasp.abril.com.br/coluna/pop/mcdonalds-homenagens-dia-da-mulher-polemica/

Imagem 2: 

Disponível em: https://gkpb.com.br/25825/mcdonalds-polemica-dia-da-mulher/

Aliás, isso acontece o tempo todo. E nem precisa ser com marca famosa. Quer ver?

Pensa no WhatsApp. Uma mesma imagem – tipo o clássico gif de “bom dia" bem florido e brilhoso – pode significar mil coisas: carinho genuíno pra sua avó, ironia entre os amigos, ou uma provocação cheia de veneno em grupos de trabalho. 🌺📱 

O que muda não é o gif. É o contexto. É o receptor. É a leitura.

Hall nos ensina que comunicar é sempre correr o risco de ser lido de outro jeito. E que, entre o que eu digo e o que você entende, tem um mundo inteiro de experiências, afetos e posições sociais.

REFERÊNCIAS:

HALL, Stuart. Encoding and decoding in the television discourse. Birmingham: Centre for Cultural Studies, University of Birmingham, 1973.

VEJA. Ação do McDonald’s para Dia da Mulher gera polêmica. VEJA, 8 mar. 2018. Disponível em: https://veja.abril.com.br/economia/acao-do-mcdonalds-para-dia-da-mulher-gera-polemica. Acesso em: 18 maio 2025.

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