LINGUÍSTICA EM FOCO: da origem às abordagens contemporâneas
Olá, leitores, sejam bem-vindos ao Multiletras! Este blog nasce como parte da disciplina de Letramentos e Práticas Multimodais, ministrada pela professora Dra. Giselda Costa, e chega até vocês com um propósito claro: explorar, questionar e compartilhar saberes sobre os múltiplos modos de produção de sentido na linguagem. Estou empolgada com essa jornada de reflexões sobre letramentos e multimodalidades e convido vocês a embarcarem comigo nesse percurso de descobertas. Vamos juntos ampliar olhares, provocar debates e aprofundar nosso entendimento sobre as dinâmicas da linguagem no mundo contemporâneo?
Mas, afinal, o que é Linguística? 💬
A linguística
é a ciência que se dedica ao estudo da linguagem humana em sua totalidade: sua
estrutura, funcionamento, variação, evolução, entre outros aspectos. Segundo
Orlandi (2007), para a linguística, “tudo que faz parte da língua interessa e é
matéria de reflexão”. Em outras palavras, ela investiga como as línguas são
formadas, adquiridas, processadas e materializadas pelos falantes, abrangendo
desde o estudo dos sons (fonologia) até a organização dos discursos que se concretizam na prática social. A consolidação da
linguística como uma ciência independente ocorreu no início do século XX, com a
publicação póstuma do Curso de Linguística Geral, em 1916, uma obra que
reuniu as valiosas anotações do professor Ferdinand Saussure,
organizadas e compiladas por seus alunos. Em seus estudos, o estruturalista
“dicotomizou” o fenômeno da linguagem, apresentando a língua como um sistema
autônomo de signos, e estabeleceu as bases para a ciência que estuda os signos e
seus processos de significação: a semiologia. Para Fiorin (2013)
a Linguística é uma ciência porque ela, ao contrário da gramática, não é
normativa/prescritiva, mas sim descritiva e explicativa.
As
investigações sobre a linguagem começaram antes da fase saussuriana, mas eram,
segundo Peixoto (2009), assistemáticas, refletindo as condições históricas e
culturais da época. No Oriente, por exemplo, os textos sagrados hindus tratavam da língua
como meio de conexão espiritual, enquanto, no Ocidente, filósofos como Platão e
Aristóteles refletiam sobre a relação entre palavras e coisas, e sobre o uso da
linguagem para persuadir, estabelecendo as primeiras teorias sobre a função
discursiva da linguagem. Essas discussões influenciaram as tensões entre
naturalistas e convencionalistas, e entre analogistas e anomalistas, que
debatiam as regras e exceções da língua, influenciando as gramáticas
tradicionais da Idade Média.
Na Idade Moderna, com o avanço do racionalismo
cartesiano, surgiram as gramáticas gerais, que buscavam princípios universais
comuns a todas as línguas. No século XIX, os comparatistas, com a descoberta do
sânscrito, começaram a investigar as relações entre línguas e suas famílias,
utilizando métodos historicistas. Essas
abordagens abriram caminho para a revolução proposta por Saussure, que tratou a
linguagem como um fenômeno estrutural e social, distanciando-se da visão
normativa anterior.
📎OBSERVAÇÃO: De vez em quando, este blog vai dialogar com outras disciplinas do mestrado. Afinal, as ideias não vivem isoladas, elas se conectam, se complementam e se expandem. Esse espaço é, antes de tudo, um lugar de organização, reflexão e troca, no qual as diferentes áreas do conhecimento se encontram para enriquecer o aprendizado, por isso, resolvi "preencher" a lacuna da disciplina de Linguística: perspectivas teóricas, apontada pela própria professora Dra. Tarcilane Fernandes no que diz respeito aos estudos da linguagem pré-saussurianos, resolvi resumi-los aqui, pois eles oferecem uma boa base para o entendimento da sistematização dos estudos linguísticos.
VOCÊ
SABIA? 🧠
A
linguagem é processada em áreas específicas do cérebro, principalmente no
hemisfério esquerdo. Duas dessas áreas são fundamentais: a área de Broca, localizada no lobo frontal,
responsável pela produção da fala e pela formação das palavras, e a área de Wernicke, localizada no lobo
temporal, que está ligada à compreensão da linguagem. Essas áreas trabalham
juntas para permitir a comunicação, mas se uma delas for danificada, pode haver
dificuldades em falar ou entender palavras, como observado em casos de afasia.
O cérebro humano tem uma incrível capacidade de adaptar essas funções, e
estudos recentes mostram que outras áreas podem compensar o trabalho de Broca e
Wernicke, demonstrando a plasticidade cerebral. Fascinante, não?
Imagem
1: Área de Broca e de Wernicke
Como
a ciência evoluiu e qual o escopo da linguística?
A evolução
da linguística está profundamente conectada ao desenvolvimento dos círculos
linguísticos, como o Círculo de Praga e o Círculo Linguístico de Moscou, que
destacaram a linguagem como um sistema dinâmico e interconectado, influenciado
por suas relações sociais e culturais. A partir do século XX, novas abordagens
começaram a emergir, ampliando o escopo da disciplina e abrindo espaço para
diversas correntes teóricas. O funcionalismo,
por exemplo, considerou a linguagem não apenas como estrutura, mas como um meio
de comunicação social, com Roman Jakobson identificando diferentes funções da
linguagem e elementos da comunicação.
Já o gerativismo, de Noam Chomsky, propôs a ideia de uma gramática universal, enfatizando a competência linguística e a análise formal da sintaxe, enquanto a pragmática, com filósofos como Grice e Austin, abordou como o significado é moldado pelas intenções dos falantes e pelo contexto social. A sociolinguística, por sua vez, investigou as variações linguísticas em função de fatores sociais como classe e etnia, enquanto a teoria da enunciação, influenciada por Benveniste e Bakhtin, destacou a importância do sujeito e do contexto na produção de sentido, com Bakhtin enfatizando a natureza dialógica da linguagem.
O escopo da linguística, portanto, se expandiu, não apenas analisando a estrutura da língua, mas também considerando seu papel social, ideológico e cultural. Para Bentes e Mussalin (2001), a partir dessa ampliação, a linguística se tornou uma disciplina multidisciplinar, que não só estuda a língua em suas diversas formas, mas também investiga seu impacto nas relações de poder e identidade, refletindo as dinâmicas sociais e culturais.
👀 É importante destacar que, embora tenhamos abordado algumas das principais teorias e tendências da linguística, seria impossível enumerá-las todas, dado o vasto campo de estudo e a constante evolução da ciência. A linguística continua em expansão, se reformulando e se adaptando a novas demandas e contextos, reafirmando seu papel como uma disciplina dinâmica e fundamental para o entendimento da linguagem e seu impacto no mundo contemporâneo.
Análise do Discurso Materialista, proposta por Michel Pêcheux, entende o discurso como prática social vinculada a condições históricas e relações de poder. Posteriormente, teóricos como Maingueneau e Amossy expandiram essa abordagem, considerando a dimensão interacional dos discursos. Já a Linguística Textual, ao investigar gêneros, contribui para a compreensão deles como textos estruturados por normas de produção e circulação.
Nesta expansão, minha pesquisa se concentra na Análise Materialista do Discurso, com suporte da Linguística Textual para compreender o cibergênero meme. Investigo como os memes, enquanto forma discursiva nas redes sociais, não apenas veiculam significados culturais e sociais, mas também revelam dinâmicas de poder e identidade nas interações online. O título é “INFLUXOS DECOLONIAIS NO DISCURSO: UMA ANÁLISE DA I GUERRA MEMEAL ENTRE BRASIL E PORTUGAL”. Nesse sentido, a “guerra memeal” entre Brasil e Portugal é analisada sob a perspectiva dos estudos sociais acerca da decolonialidade, evidenciando como esses discursos digitais refletem e questionam relações históricas de poder, colonização e resistência.
🔍📹 ASSISTA um vídeo sobre o ciberfenômeno que pretendo analisar em minha pesquisa:
REFERÊNCIAS:
FIORIN, José Luiz (Org.) Linguística?
Que é isso? São Paulo: Contexto, 2013.
MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina (orgs). Introdução à linguística: domínios e fronteiras. v. 1 e 2. São
Paulo: Cortez, 2001.
ORLANDI, Eni Pulcinelli. O que é linguística.
São Paulo: Brasiliense, 2007.
PEIXOTO, Maria da Silva. A linguística antes de Ferdinand de Saussure –
uma retomada histórica. Web-Revista
Página de Debate: questões e linguística e de linguagem, edição 09, set.
2009. 6º artigo. Disponível em: https://www.academia.edu/26495591/A_LINGU%C3%8DSTICA_ANTES_DE_FERDINAND_DE_SAUSSURE_UMA_RETOMADA_HIST%C3%93RICA.
Acesso em: 22 mar. 2025.
SAUSSURE, Ferdinand
de. Curso de linguística geral. 27. ed. São Paulo: Cultrix, 2006.
Muito bom. Parabéns!
ResponderExcluirÓtimo texto, parabéns!
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